Não é segredo que a tecnologia impacta todas as áreas de nossa sociedade. A arte, é claro, não é exceção. Nos últimos anos, tecnologias como a inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, e até o metaverso têm sido empregadas por artistas e por espaços de cultura para expandir o contato do público com obras de arte. Veja nesta reportagem do IT Forum, como a combinação de arte e tecnologia têm chegado aos museus e levado conhecimento e cultura ao público.
Exemplo disso são as diversas mostras imersivas que se popularizaram em cidades como São Paulo, que atraíram o público mesmo sem contar com obras originais dos artistas. A primeira exposição do tipo aconteceu no MIS Experience, espaço do Museu da Imagem e do Som (MIS) especializado em mostras do gênero, e trouxe, em 2019, “Leonardo da Vinci: 500 Anos de um Gênio“, evento que alcançou 500 mil visitantes em quatro meses.
Desde então, artistas como Michelangelo, Monet, Banksy e Frida Kahlo também tiveram exibições imersivas na capital paulista. Em cartaz desde janeiro, “Tutankamon, Uma Experiência Imersiva” é mais um exemplo da tendência. A exibição está instalada no Shopping Cidade São Paulo e já recebeu mais de 40 mil visitantes desde sua inauguração.
Em vez de focar na obra e na história de um artista específico, a experiência transporta os visitantes até cenários e locais do Egito Antigo através de tecnologias avançadas. Na lista de ferramentas utilizadas estão projetores Panasonic para projeções em 360° com qualidade 4K; óculos HTC de realidade virtual, que levam os visitantes para a tumba de Tutankamon ao lado de Howard Carter, egiptólogo britânico que descobriu o local; e até uma instalação que usa inteligência artificial (IA) para transformar os participantes em personagens como sacerdotes e faraós, através da composição de fotos.
Para Hugo Teixeira, diretor da exposição e CEO da Bem Comunicação, empresa que realiza a exposição em parceria com a Apple Produções, o emprego de tecnologias nesse modelo de mostra é o caminho para entregar educação com entretenimento. “Não tem mais como a gente discutir a possibilidade de não usar a tecnologia dentro do conhecimento”, disse em conversa com o IT Forum. “A gente tem o propósito, como negócio, de ser um compartilhador, incentivador e fomentador de conhecimento dentro dos nossos territórios”.
A empresa opera no Brasil conteúdos criados pela empresa espanhola Layers of Reality, estúdio de criação de conteúdos de “realidade estendida”. Teixeira conta que já tem conversas com a organização para trazer a tecnologia de desenvolvimento de conteúdos para o Brasil, para que profissionais do país possam aprender e começar a trabalhar nesse tipo de produção localmente.
“Nosso objetivo é criar o primeiro centro de arte digital do país”, contou. Para isso, o grupo também fez um contrato de longa duração com o Shopping Cidade São Paulo para hospedar experiências imersivas que utilizam tecnologia para aproximar o público de artistas e de eventos históricos. “É como se fosse um novo cinema”, anotou.
Curador-chefe do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, Cauê Alves avalia que a aproximação entre arte e tecnologia se acelerou após a pandemia da Covid-19. “Os museus, assim como tudo, ficaram fechados durante a pandemia. Tudo foi para o online e o museu teve que se desdobrar”, disse ao IT Forum. “Quando a pandemia termina, o museu tem que não só voltar para o analógico, mas continuar no digital. A gente teve que multiplicar o museu.”
Fundado em 1948, o MAM é uma das instituições de arte mais tradicionais da cidade, mas também precisou se adaptar às transformações que a intrusão da tecnologia no nosso cotidiano trouxe na relação entre o público e a arte.
No ano passado, o museu exibiu “Realidades e Simulacros“, primeira exposição em realidade aumentada do Brasil. A mostra trouxe obras inéditas criadas por artistas como Regina Silveira em parceria com o Estúdio Hiper-Real, responsável pelos modelos 3D e animações das obras. As obras em realidade aumentada só poderiam ser vistas por visitantes que estivessem no parque do Ibirapuera usando seus smartphones.
“Achamos que não se trata de substituir a visita ao museu pela tecnologia. Mas nós vamos trabalhar com as tecnologias para atrair outros públicos e realizar experimentos artísticos que façam com que as pessoas possam visitar o museu”, disse Alves.
Para o curador-chefe, tecnologias como a inteligência artificial são bem-vindas em espaços artísticos e não são vistas como ameaças, mas como oportunidades de explorar novos meios. No ano passado, por exemplo, o artista Lucas Bambozzi usou IA na obra “Incerteza Artificial” para escanear a região entre a Ponte Metálica, a Praça da Paz e seu entorno, no Ibirapuera, e nomear o que encontrava no caminho.
“Em geral, as experiências se multiplicam em canais, se multiplicam em meios distintos e o museu está buscando esses meios todos”, disse o curador do MAM. Sobre o papel dos museus, ele também reflete que as novas tecnologias não impactaram sua missão principal. “O museu continua conservando obras de arte, continua estudando e expondo”, anotou. “Mas agora tem um campo de comunicação muito mais amplo.”